Monday, December 13, 2010

A VIDA COMO PALCO

Por muito que, e durante meses a fio, tente colocar a armadura de senhor-está-tudo-bem, a grande verdade é que as coisas não se passam necessariamente dessa forma.
Talvez potenciado pela época que se aproxima e pelas ausências que nesta altura do ano se fazem ainda mais sentir, começo a ficar cada vez mais triste pelas outras ausências que de repente se anunciam.
Não sou velho e no entanto começo cada vez mais a ter saudades do antigamente, ter saudades do relativamente antigo, ter saudades até de ontem.
Talvez esteja a ter alguma crise existencial, talvez, ao fim ao cabo também tenho direito a isso. Se existem pessoas que estão em crise 12 meses por ano eu também me posso dar ao “luxo” de algumas vezes passar por essa dita crise, ou então como já me disseram varias vezes é a crise da meia idade, seja qual a idade parâmetro para tal e nesse caso deve ter um intervalo enorme porque já oiço isso faz uns anos, além de que deve ser difícil dizer a alguém no inverso que já tem a idade completa.
Quantificar esta situação é no mínimo estúpido, da mesma forma que qualificar a mesma é um exercício de todo ilógico devido á subjectividade da mesma que varia de certeza absoluta de pessoa para pessoa, inclusive para quem esta do outro lado a meio caminho de me dar uma palmadinha nas costas e dizer que o dia de amanha é melhor de certeza. Esta própria situação variará de certeza, também, com o estado de espírito da mesma, ou seja tenho de em 1º lugar mais uma vez arcar com a minha crise, porque é só minha, e além disso as outras pessoas também já têm os problemas delas como ás vezes deixam isso bem vincado, com algum comentário em rodapé de: é um “deja vu”, ou “nada que não tenhas feito antes”, ou “nada de novo”.
Acontece que existe sempre algo de novo em cada situação destas, sem falar na amargura das mesmas, é sempre novo o facto, em contraste com a reacção das pessoas, de me sentir cada vez mais impotente para dar a volta ás mesmas, eu que sou um optimista por natureza, ou no mínimo ostento uma capa que me fortalece dessa forma e me facilita o dia a dia.
Mas sinto…
E se na maioria dos casos consigo digerir as situações, caindo até no erro de deixar que as pessoas pensem que é este o tipo de vida que quero e que todos os sacrifícios que alguém faça na vida me passam ao lado, outras alturas não consigo disfarçar e a tristeza apodera-se de mim qual sanguessuga em busca de sangue quente.
Ao fim ao cabo sou humano, com todos os meus defeitos e algumas pequenas virtudes, lógico que mesmo estas premissas são mais valorizadas ou desvalorizadas em função dos olhos que as vêm, em função do grau de parentesco que as vêm, tendo a certeza que aos olhos de filhos por exemplo com, 4, 11 ou mesmo 21 anos os defeitos não são tão grandes assim e as pequenas virtudes em alguns casos tornam-se enormes fazendo com que desta forma a “coisa” se atenue.
Mas não chega, o lado sentimental do humano não se cinge só ás “crias”, outras partes do sentimento também são necessárias ao equilíbrio do ser, só desta forma o quadro fica completo, só desta forma o grito silencioso que me rebenta por dentro adormece á espera de nova oportunidade que eu desejo que não surja, mas é utópico pensar assim. Quando não for por uma questão sentimental esse grito soará em mim por solidariedade com alguma história comovente ou por alguma causa perdida á partida…nem tudo tem de girar á minha volta claro.
Ser-se observador de outras histórias é como ser actor num filme com um papel minúsculo e em que o nosso nome só aparece junto com mais trinta numa altura em que o cinema já está vazio. Nem o próprio arrumador presta atenção enquanto apanha do chão os copos vazios de coca-cola e os pacotes das pipocas…
É muitas vezes, ser-se actor secundário com um papel minúsculo no grande palco da vida de todos nós.
É passar-se de actor principal a secundário com pena de se ter perdido o protagonismo ou simplesmente por deixar de se estar na moda, e ver que outros actores aparecem em cena tomando o nosso papel deixando-nos unicamente espaço para um pequeno anuncio de shampô anti-caspa.
Estou amargo? Estou desiludido? Não, simplesmente estou triste…