Sunday, October 18, 2009

Convicções

Hoje perguntaram-me se eu era feliz…pensei de imediato que essa pergunta era talvez a que mais respostas politicamente correctas pode ter. Consegue-se responder a essa pergunta com varias não-respostas, consegue-se camuflar e dourar respostas não expondo o que não queremos que se saiba, e consegue-se relativizar o que nos convém manipulando as ditas respostas de modo a que continuemos no mínimo a ser um enigma nesse campo. Uma das coisas que pode trazer felicidade a um homem é por exemplo seguir as suas convicções, fazer delas sempre a sua bússola, o seu sentido de vida, e noto que hoje em dia existe uma falta de convicções assustadora na nossa sociedade.
Nas gerações mais novas então é brutal e assustador ver que “ideologia” por exemplo, não faz parte do vocabulário deles, nem sequer sabem o que isso significa. Se tomarmos como exemplo a abstenção das últimas eleições legislativas seria interessante saber qual a faixa etária dessa enorme abstenção e não duvido que ela seria esmagadora dentro do intervalo dos 18 aos 35 anos, õu seja exactamente uma geração pós 25 de Abril que achou que o facto de não ter referencias politicas, nem ter de lutar por direitos faz com que se borrifem positivamente para eleger o governo DELES e quem vai decidir o futuro do País por ELES.
Mas depois acho engraçado que contestem medidas e politicas governamentais, nessa altura seria bom pensarem que no dia das eleições preferiram a praia ao dever cívico, e sobre este assunto estamos conversados.
Mas nem só de convicções politicas o homem vive, existem outras convicções bem mais importantes, se Galileu não tivesse a convicção de que o Sol seria o centro do nosso sistema e não a Terra, se D. Afonso Henriques não tivesse a convicção de fundar um País (ó Afonso mas não se bate na mãe, porque mãe há só uma), se Martin Luther King não tivesse um sonho, se Nelson Mandela…, se Gandhi…, se Gorbachtov…e poderia continuar por aí fora, ou seja sem as convicções destes homens o mundo não seria igual ao que hoje conhecemos.
O próprio Amor é uma convicção, amar é lutar pela convicção de que o coração escolheu “aquela pessoa”, e nessa altura parece que o coração bate mais rápido, mas é pura ilusão meus caros e minhas caras, nessa altura o coração em vez de bater apanha, o pensamento tolda-se a uma vertiginosa sinapse de estímulos deliciosos e a convicção de que estamos perante a “tal” acontece.
Depois…bom depois muitas coisas podem acontecer, e se na politica se passa de uma ideologia para a outra enquanto o Diabo esfrega um olho, no amor as convicções também muitas vezes desabam, e o que parecia ser afinal não é, e a convicção de que afinal era possível acontecer, passa, da prática á teoria, que é aliás onde todas as convicções começam.
Isto ao fim ao cabo é mais uma prova de que nada é imutável, e se as minhas convicções já algumas vezes mudaram, nunca deixei de as defender e lutar por elas, fossem quais fossem em determinadas alturas da minha vida, sendo acima de tudo desta forma honesto comigo mesmo, umas vezes vendo os frutos dessas convicções outras ainda esperando que aconteçam.
Como diz um personagem no final do filme Blade Runner …” one day everything will be lost like tears in the rain “…menos…as convicções.
Um resto de boa noite.