Tuesday, November 18, 2008

UNICORNIOS II

Estamos novamente perto do Natal, começam-se a fazer as listas de presentes, as azafamas dos centros comerciais, se bem que aqui não precisa ser uma época especial porque o povo está habituado a ir para os centros a qualquer altura, faça sol ou neve, é quase uma questão de culto ir ao centro comercial no mínimo ao fim de semana, e se se for de fato treino então aí ficamos com o cenário completo. Mesmo numa época em que os euros escasseiam fazem-se contas e sempre se consegue comprar algo para oferecer, mas e quem não consegue? Quem no Natal faz de conta que é um dia como os outros de sofrimento e nem pode dar aos filhos um simples presente? Nem estou a falar de países africanos, ou asiáticos de religião católica, estou a falar de cá de Portugal e de todos os países desenvolvidos porque existem pessoas nestas condições, existem crianças que vêm o natal nas outras crianças e sonham, as que ainda sonham, num dia em que também elas vão ter presentes e sorrir e esperar pelo Pai Natal e ter…comida á mesa…
A maioria dessas crianças não vão ter oportunidade de sorrir com o Natal, crescem, deixam de ser crianças mesmo que tenham 10, 11, 12, 13 anos, e os sonhos param aí, e por muitas coisas que se possa pensar, talvez das mais tristes é pensar num Natal sem crianças, num Natal com crianças e sem os sorrisos delas, num Natal sem Natal em muitas famílias portuguesas.
Dou por mim a pensar nos meus Natais, eu vestido de Pai Natal a distribuir presentes á pequenada na família, aos adultos, á minha avó Esmeralda que eu tanto gostava, ao meu Pai…ele que era contra isso porque se desvirtuava o significado do Natal, mas ao mesmo tempo adorava ver as crianças com aqueles olhinhos pequeninos a brilharem e a perguntarem de cinco em cinco minutos quanto tempo faltava para a meia noite, a minha mãe e tias, mais tarde as minhas irmãs, de volta da cozinha a fazerem a comida, os doces, e os sonhos…era tão bom que os sonhos da nossa vida fossem assim “fáceis” de realizar, com açúcar ou sem açúcar, com canela ou sem canela, sonhávamos e ia ao lume e pronto…
Lembro-me de ser criança e com a minha mesada comprar prendas, minúsculas, para as minhas irmãs, e para os meus pais e a minha avó claro, e ficava tão feliz com isso, hoje olho para trás e mesmo que quisesse dar essas mesmas prendas minúsculas e muitas vezes fabricadas por mim já não as conseguia oferecer á minha avó e ao meu pai, e trocava tanta coisa para poder nem que fosse só mais uma vez conseguir fazer isso a eles…, é sentir que o Natal perdeu um bocado da sua importância, é ao mesmo tempo ver que alguns olhinhos brilhantes que procuravam no céu pela janela um trenó com renas, e ás vezes até conseguiam mesmo ver o trenó, hoje em dia olham para o relógio não para começar mas para terminar a festa porque ainda pode dar tempo para se ir ter com os amigos, ou ir para uma discoteca, felizmente que como tenho o privilegio de ter uma família grande vão aparecendo outros olhinhos brilhantes que substituem os agora embaciados, mas continuo com a mesma sensação de perda…nunca mais se irão repetir momentos únicos como os de alguns Natais passados, e fico triste com isso.
Sempre adorei a época do Natal, era um misto de alegria e tristeza porque se é um facto que fico mais sensível nessa altura a compensação também era enorme, mesmo já sem os meus olhinhos brilhantes, era único fazer de Pai Natal, era indescritível oferecer uma prenda a uma criança e ver nela um misto de medo e de excitação, vê-los a rasgar os embrulhos freneticamente para descobrir o que esta lá dentro e de seguida aqueles sorrisos únicos de cada uma delas, eram e ainda são momentos mágicos, e nesta altura volto a pensar nas que não têm Natal…é tão cruel a outra realidade, era tão bom que o meu Unicórnio de estimação pudesse nesta altura aparecer-lhes e mostrar-lhes que ainda é possível ser-se feliz, como prenda deixa-las brincar com ele, deixa-las fazerem-lhe festas e num final apoteótico leva-las na garupa...e voar …
Um resto de boa noite